terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Marrocos II - مراكش II



Ait Ben Haddou, Ouarzazate, Agdz e Deserto de Zagora
E chegou a manhã do dia tão esperado. Acordamos e fomos para um café super-reforçado e muito bem servido, com croissant (doce e salgado), pão típico marroquino, suco de laranja, iogurte, café com leite e um delicioso ovo mexido, feito na hora pelos simpáticos rapazes que nos atendiam no café da manhã hotel, e algumas frutas para finalizar.
Falando em frutas, Marraquexe é o lugar onde comi a tangerina mais docinha e suculenta do mundo. Outra coisa que eles tomam muito por lá é o suco de laranja, chamado lá como o sumo da laranja. Tem em todas as partes, e claro que o lugar mais famoso de venda é a praça Jemaa El Fna.
Como combinado, 08:30 da manhã nosso guia e também motorista estava nos esperando na recepção do hotel. Um rapaz aparentemente tímido, com a pele bem morena e com os típicos traços marroquinos.
Primeiro obstáculo da nossa viagem – como não falamos francês solicitei um guia que falasse inglês ou arranhasse um espanhol, e o rapaz no qual fechamos o contrato do tour me disse: “Claro, sem problemas, nosso motorista fala inglês o suficiente”. Eu não sei o que significa a palavra “suficiente” pra ele, mas para mim é quando você consegue falar ou entender alguma coisa. E neste caso estava bem longe de ser o suficiente.
Comecei a falar com o guia e ele só sacudia a cabeça dizendo que não entendia. Então perguntei: “Do you speak English?” e ele respondeu com a cabeça que não. GREAT! Começamos muito bem.
Tínhamos comprado um mini-dicionário em francês, e esperava relembrar um pouco dos 6 meses de francês que fiz quando eu tinha 16 anos.  Mas pelo jeito a língua dos sinais iria imperar durante nosso passeio.
Então saímos em mais um dia quente e ensolarado de Marraquexe. Nosso primeiro destino? Só Deus e Mohamed sabiam, porque nós ainda não conseguíamos entender o Mohamed.
As paisagens eram belíssimas, atravessamos as montanhas do Alto Atlas, subimos quase até o pico e depois começamos a descer as estradas sinuosas passando por muitos vilarejos e "perais" na beira da estrada. Muito marrom, mas muito verde com pouquíssima água, apreciamos pelo caminho.
Esse trajeto cruzando as montanhas até Ouarzazate é feito por quase todas as empresas turísticas. Assim, encontramos muitos turistas nos mesmos pontos em que parávamos para tirar fotos. Ah falando nisso, Mohamed sabia falar “foto” (afinal é assim que se fala em francês também), então toda vez que ele ia parando, ele nos avisava: FOTO, para entendermos que esse era o motivo de nossa parada. Mohamed era uma pessoa muito tímida, tinha dificuldade de se expressar, isso dificultou um pouco também. Ele nos conseguiu um mapa para ir indicando as paradas e também nos mostrar nosso ponto final, isso ajudou um pouco.
Pelo caminho tem muitos vendedores de souvenirs na beira da estrada, e saiba você que o seu guia recebe uma comissão de tudo o que comprar enquanto estiver com ele, por isso não se deixe convencer a comprar aquilo que não queira.
Depois de 4hs admirando as subidas e descidas sinuosas, montanhosas e áridas, Mohamed aponta no mapa a cidade Agdz e disse: MANGER, essa eu sabia, COMER!
Começamos a adentrar por ruas estreitas e labirínticas, onde eu nunca pensei que passaria um carro grande. Ficamos um pouco tensos, pois não tinha como ter algum restaurante ou qualquer lugar para comer dentro daquelas ruelas tão estreitas. Para nossa surpresa tinha, e muito bem estruturado, com uma vista linda sobre uma grande Kasbah (residência majestosa, de estrutura imponente, construída sobre uma planta quadrada) e sobre um imenso palmeiral do vale do Drâa. Quando entramos fomos muito bem recebidos, a maioria dos funcionários falavam inglês ou espanhol, e isso foi bom, pois podemos conversar e tirar algumas dúvidas. Encontramos mais quatro casais, almoçando individualmente, e tivemos a oportunidade de conversar com o casal mexicano, que nos confessaram estar passando pelos mesmos temores que nós, pois o guia também não falava inglês ou espanhol, e que estavam temerosos pela noite no deserto. Pudemos ver que não éramos só nós que estávamos naquela situação.
Para fechar nossa passagem em Agdz, Mohamed (através de gestos e algumas palavras) nos perguntou se queríamos visitar a Kasbah... Claro que sim!!!  Fomos apresentados ao nosso guia (que falava inglês) que nos levou para o tour. Na entrada da Kasbah, um rapaz sentado, escutando música no celular nos esperava para cobrar o ingresso: 30 Dirham/pessoa, Ok, Justo! A kasbah era imensa, muito bonita por sinal, mas adentrar todas aquelas portinhas, com lugares totalmente no escuro com uma pessoa que você só via uma parte do rosto e só vocês dois, mais ninguém... Tenho que confessar que fiquei com medo!!!
Final do tour, Thankx Mohamed (esse guia também era Mohamed), gostamos muito, tudo muito lindo e diferente... Não, não, não, tem que pagar o guia também, esse valor não estava incluso na entrada da Kasbah... 100 Dirham/tour! Negociar? Que nada, não teve choro, é isso e papo encerrado.
Aquela dica que dei no primeiro post também vale aqui: Antes de entrar em qualquer lugar, e receber a ajuda de qualquer pessoa, pergunte antes por quanto isso sairá.
Os 100 Dirham foram bem pagos, pois o passeio pela Kasbah valeu a pena, e com um guia explicando tudo, melhor ainda!
Segunda parada, Ouarzazate. Cidade conhecida como “porta do deserto”, fica amparada ao sul das montanhas do Alto Atlas, na confluência dos vales do Draá. Os atrativos da cidade são as inúmeras kasbahs, tendo como a principal a Taourirt, (bem no centro da cidade). Ao longo de sua história, também foi um ponto estratégico para a parada das caravanas, e além disso, é o centro cinematográfico do país e abriga vários estúdios de cinema. Muitos filmes famosos foram gravados lá, como: A Múmia, A última tentação de Cristo, O Gladiador, Babel, Asterix, Cruzadas entre outros.
Chegamos na cidade e estava a maior agitação, pois estava tendo greve dos taxistas. As ruas estavam fechadas com galhos de árvores e alguns táxis estavam com vidros quebrados. Então nossa passada por Ouarzazate foi mais rápida, apenas paramos para bater algumas fotos. 
Toca para o deserto, afinal já tinham se passado 7hs de viagem.
O sol começou a cair, e então chegamos a Zagora. E agora queríamos saber o que aconteceria, quais seriam os próximos passos, aonde seria nosso acampamento, quantas horas de viagem de camelo, inúmeras perguntas sem respostas. Mas quando chegamos no ponto onde os camelos estavam nos esperando, encontramos mais 3 carros de turismo, deixando outros grupos de pessoas e entre estes estavam as 3 meninas gaúchas que encontramos em Marraquexe. Daí pensamos, menos mal!!! Agora tem outras pessoas junto, vamos poder nos comunicar e entender os acontecimentos. Só que este pensamento durou pouco... rsrsrs
Como fomos os primeiros a chegar ao ponto de partida, fomos os primeiros a sair com os camelos. Nosso guia agora era outro, também Mohamed (Acho que fizeram uma seleção especial de Mohamed’s só pra nós no Marrocos). Esse pelo menos falava um pouco em inglês. Então saímos muito felizes, sorridentes e batendo muitas fotos. Os demais estavam vindo logo atrás de nós. Só que em um determinado ponto do caminho nosso guia nos desviou do restante do grupo, eles começaram a ir para o lado totalmente contrário ao nosso. Então perguntei gentilmente ao nosso querido guia: “Mohamed, porque nós estamos indo para outro lado e não junto com o grupo?” ele respondeu: “Porque para vocês é um camping individual, outro lugar”... WHAT???? Mas eu não queria camping individual. Daí comecei a ficar tensa, e o meu excelentíssimo marido só nos flashs atrás de mim, fotos e mais fotos. Quando fico nervosa não consigo parar de falar, então comecei a falar e não parei mais, enchi o guia de perguntas. Algumas ele respondia, outras ele só sacudia a cabeça e cantava. Rsrsrsrs! Eu queria muito saber onde estava o camping que eu não enxergava, e o Mohamed dizia logo ali depois daquela montanha (e a montanha nunca chegava!!!). Afinal era 1 h de camelo até o camping. E eu já comecei a pensar, porque escolhemos vir pro Marrocos? Para o deserto? Com tanto lugar romântico para passar o nosso 3° ano de casados e fomos escolher logo o Marrocos!
Já não se enxergava mais nenhum palmo na frente do camelo. A noite chegou muito rápida e nós estávamos sozinhos com o nosso guia, no meio do nada, sem ver nada e sem saber aonde íamos parar. Comecei a forçar e a piscar os olhos, para ver se via alguma coisa à frente, pois já estávamos na bendita montanha. Foi então que enxerguei no meio de toda aquela escuridão, uma luzinha bem fraquinha, e algumas barracas. Nossa, foi um alívio! Mas alívio maior foi quando chegamos e encontramos um casal de espanhóis muito simpáticos, Neus e David, sentados na tenda tomando chá e conversando com mais dois berberes.
Ahhhhhh enfim chegamos! Depois de toda a tensão, pudemos relaxar. O camping é muito bem estruturado, as tendas muito bem equipadas, tinham tendas separadas para sala de jantar, cozinha, banheiros com duchas (homens e mulheres).
A comida foi deliciosa, o típico chá de ervas foi muito acolhedor, caminhar pelas dunas no meio da noite só com luz da lua e uma lamparina, foi incrível! E sentar a beira da fogueira para esquentar a noite fria do deserto e ouvir canções e histórias sobre os nômades e o povo berbere, foi uma experiência única em nossas vidas. Mohamed era uma pessoa muito alegre e amigável, toda vez que tirávamos foto ele pedia para dizermos: COUSCUS! rsrsrs
 Foi uma noite indescritível! Na manhã seguinte nos despedimos do deserto e de nossos amigos e fizemos nosso trajeto de volta a Marraquexe, com mais algumas paradas pelo caminho, como em Ait Ben Haddou, uma cidade fortificada à beira do rio Ouarzazate que foi declarada Patrimônio Mundial em 1987 e também serviu de cenário para muitos filmes famosos (Lawrence da Arábia, A Jóia do Nilo, Gladiador, Alexandre – O grande, entre outros). Foi em Ait Ben Haddou que tivemos a oportunidade de ver uma das Kasbah’s mais conservadas. Apesar das paredes, tetos e pisos serem feitos com terra batida alguns gravetos e palhas, parece quase impossível que tenham se mantido nestas condições por tanto tempo. O local é constituído por várias casas, vielas estreitas e labirínticas, onde até hoje habitam algumas famílias. Bem no topo desta Kasbah é onde está enterrado o fundador do lugar, Ben Haddou.
Eis que chegamos ao fim do nosso passeio, toda a ansiedade, preocupação e tensão que passamos até chegar ao deserto, eu diria que foi culpa de nossa pouca experiência em viagens aventureiras.
Espero assim que isso sirva de lição para todos os nossos leitores, e que possam aproveitar as dicas e ter um passeio inesquecível pelo Marrocos.
Antes de finalizar, mais algumas dicas:
- Marraquexe tem muitos museus a serem visitados. Não deixe de conhecer!
- Lès Bains Marrakech – é um spa que oferece massagens e banhos típico dos árabes. Nossos amigos espanhóis estiveram lá e nos contaram que é uma loucura. Infelizmente não tivemos tempo de experimentar, mas recomendamos;
- Comida: a cozinha marroquina é famosa pelos temperos, então experimente. Só procure comer em restaurantes mais movimentados, onde você veja que tem um pouco mais de higiene. Recomendo experimentar:  Cuscuz, tagine, harira e bissara (as 2 últimas são dois tipos de sopa, que servem como entrada);
- Acomodação: Isso depende muito de você, pois tem várias opções como os hotéis e as Riads (que são casas tradicionais marroquinas com mais ou menos 6 quartos, a maioria na medina). Nós ficamos em hotel e gostamos muito, já nossos amigos brasileiros e os espanhóis, ficaram em Riads. Pelo que nos falaram é uma aventura e tanto também.
- Mulheres: As mulheres podem ser alvo de olhares ou até mesmo assédio. Não se sinta na obrigação de ser educada em casos como esse. Os óculos escuros ajudam para evitar o contato visual. Se preferir pode usar o famoso hijah (lenço que se usa na cabeça). E vista roupas não muito atrativas (shorts, tops curtos), prefira roupas mais largas;
- Compras: Tâmaras (fruta tradicional), vestuário de couro (Marrocos tem uma grande variedade de couro), Tagines (pratos tradicionais para o preparo de comidas marroquinas, muito coloridos e feito de barro), Birad (chaleiras marroquinas, muitas são banhadas à prata. Usadas para fazer os chás), Djellabah (Túnica clássica marroquina e tem um capuz com uma ponta pra cima) e tapetes (se tiver espaço na mala é claro...rsrsr).

Ainda hoje estava lendo uma revista com a seguinte reportagem: “Stress-free guide to city breaks”, e lá estava Marraquexe, falando que é uma das cidades mais coloridas e vibrantes do mundo, mas dificilmente uma das mais relaxantes!
Então, se você quer relaxar corra para as montanhas, se você quer se aventurar, corra pra Marraquexe.

Bi saha raha!!!
Desfrute e relaxe!!!

Até o próximo post...
Atravessando as montanhas do Alto Atlas






No alto das montanhas



Chegando à Agdz




Interior da Kasbah de Agdz




Zagora, rumo ao deserto



Nossa tenda de jantar e nossa amiga Neus

Muita música berbere e muito chá de hortelã

Mohamed, couscusssss!!!! rsrs




As tendas





Voltando pra casa!

Museu do cinema em Ouarzazate



Ait Ben Haddou

Harira

Tagine

Kasbah Ait Ben Haddou, cenário de vários filmes


Topo da Kasbah, onde está enterrado Ben Haddou


Na volta pra casa, no topo do Tichka altura de 2260







2 comentários:

  1. Olá Fernanda.
    Adorei sua aventura pelo Marrocos.Me identifiquei com muitos pontos da sua experiência.
    Eu e meu marido resolvemos fazer nossa primeira viagem internacional justamente para o Egito e Turquia. Então imagina, chegamos no Egito achando que sabíamos tudo e tivemos nosso primeiro choque cultural, exatamente como vc descreveu. Esses países de descendência árabe são muito pobres e tentam tirar vantagens dos turistas. Esse comportamento, alías, não é muito diferente de alguns lugares do Brasil, diga-se de passagem. Mas con certeza a experiência de ir a esses países é única. As suas fotos estão lindas. Nós fizemos um album de scrapbook com recordações, como notinhas, trechos em árabes, etc. E também fizemos um album de fotos. Vale apena.
    Um beijão para vocês. Continuo acompanhando o blogg e curtindo.
    Eloisa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eloisa, obrigada por sempre nos acompanhar e sempre nos deixar o seu comentário!!!! Estou pensando tb em fazer um scrapbook de cada lugar que fomos, acho que vai ser bem legal... Um grande beijo

      Excluir